quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cântaro

.sinto uma tristeza profunda. é tempo de choro. não, é tempo de pranto. não se resume a uma lágrima que cai, mas um cântaro que se derrama como se as águas nunca fossem acabar. eu pranteio. vejo o cassetete se erguer no ar e entristeço até sentir os ossos amolecerem. um adolescente está no chão com o pescoço refém de uma força que não é apenas policial. a escola é o mínimo minimorum. a escola é recente na história brasileira. esta força não. a escola, esta pública, muitas vezes, um perfeito simulacro de navio negreiro onde nos depositam, nós,  a maior parte da população negra, para jogar-nos em um mercado que intenciona e procura reduzir-nos a menos ainda que nossa força de trabalho. a escola, é o mínimo. mínimo. mínimo.  mas a força, esta é máxima. violenta. vergonhosa. e um corpo adolescente cai. e ele é, em uma porcentagem que se faz com os olhos, quase sempre negro. e quando as lágrimas que escorrem me fazem pensar na impotência que sinto, enxugo-as e encaro o adolescente ao chão. seu corpo ali, impede que não seja a luta a refém. a luta. esta, travada por estes que recebem a escola miníma. que disputa. que organiza. que enfrenta. com e por, esta escola miníma que recebem. e não me envergonho pela tristeza que sinto. ela é anterior. ela é por todos espaços em que não colocamos os pés, mas que certamente o cassetete também estaria erguido. e ao manter o cântaro correndo em mim, me sinto forte. por e com, o meu povo. com e por, estes estudantes. e em esperança e força, pranteio negramente.

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