.sinto uma tristeza profunda. é tempo de choro. não, é tempo
de pranto. não se resume a uma lágrima que cai, mas um cântaro que se derrama
como se as águas nunca fossem acabar. eu pranteio. vejo o cassetete se erguer
no ar e entristeço até sentir os ossos amolecerem. um adolescente está no chão
com o pescoço refém de uma força que não é apenas policial. a escola é o mínimo
minimorum. a escola é recente na
história brasileira. esta força não. a escola, esta pública, muitas vezes, um
perfeito simulacro de navio negreiro onde nos depositam, nós, a maior parte da população negra, para
jogar-nos em um mercado que intenciona e procura reduzir-nos a menos ainda que
nossa força de trabalho. a escola, é o mínimo. mínimo. mínimo. mas a força, esta é máxima. violenta.
vergonhosa. e um corpo adolescente cai. e ele é, em uma porcentagem que se faz
com os olhos, quase sempre negro. e quando as lágrimas que escorrem me fazem
pensar na impotência que sinto, enxugo-as e encaro o adolescente ao chão. seu
corpo ali, impede que não seja a luta a refém. a luta. esta, travada por estes
que recebem a escola miníma. que disputa. que organiza. que enfrenta. com e por,
esta escola miníma que recebem. e não me envergonho pela tristeza que sinto.
ela é anterior. ela é por todos espaços em que não colocamos os pés, mas que
certamente o cassetete também estaria erguido. e ao manter o cântaro correndo
em mim, me sinto forte. por e com, o meu povo. com e por, estes estudantes. e
em esperança e força, pranteio negramente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário