quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Breve crônica de desesperos acumulados

.a humanidade. esta frágil concepção que denota o que? abrangente de tantos homens e de nenhuns. esta minha humanidade individualizada por exemplo, tantas vezes tomada de mim ou negada em mesma medida pelo meu eu. sou bicho. sou bicho quando atravessam a rua conclamando a segurança. quando cadelizam-me nos olhos desrespeitosos de desejo. desejo de nojo. no supermercado quando me oferecem a chave para guardar a mochila. só a mim. na praça quando o lazer do ócio é suplantado pelos olhares inquisidores. sou bicho sem lugar. mesmo em casa, quando negam-me chamá-lo de lar, quanto desconfortam-me a ponto de eu não mais pensar, eu sou bicho. sou bicho que come quando me olham comer. julgam-me à mim e ao prato. sou bicho quando me agarro ao sobretrabalho por um patamar inalcançável. quando me desrespeito no amor. quando esgarço meu corpo até a inercia. a todo momento tenho que defender essa mínima humanidade. tenho que lutar. lutar feito bicho.