terça-feira, 15 de março de 2016

Das modernidades

eu tenho medo do bem. tenho medo da faca da convicção. vejo-a retalhar ideias no ninho. aspirações em formação. ideais que não se transmitem na linguagem formatada, na formalidade das falas bonitas, mas mortas. cemitério de altíssimas verdades. um corte profundo, assertivo, treinado na mediocridade do reproduzir. eu tenho medo do bem cristalizado. da negação do mal estar que a análise atenta, constante e forçada provoca. eu tenho medo da transubstanciação do bem em verdade e, da verdade em deus. da fé, que faz enxergar ao outro como inimigo. sacrificamos nossos inimigos a deus. é assim faz tempo. mesmo sem saber ao certo o que é o bem, ou, o que é deus. estranho olhar o outro sem se ver. o outro é carapaça. sujeito a humilhação e chutes na costela. ele não é o bem. ele não se justifica. e a verdade-fé se justapõe em um único tiro. eu tenho medo do bem. eu tenho medo do bem. eu tenho medo do bem. 

sábado, 12 de março de 2016

Dos fazeres

.eu faço poesia de quinas e de sobras. às vezes de falta também, mas só quando ela é fartura.

terça-feira, 8 de março de 2016

Morte e vida poetina

expressão engraçada:
- veia poética.
salvadora também.
faz-me pensar que
morrer é
um bem maior
que o poeta
pode legar.
imagine:
os olhos baços
do poeta estirado no asfalto,
atropelado
pela sensibilidade,
e o sangue
borbulhando
abrindo caminho
entre o desgosto
cotidiano
através dos pneus dos carros.
fazendo sua própria via,
despertando flores,
alamedas de paz.
o cordeiro da remissão:
as pessoas olham
e o todo aquele vermelho
as absolve de serem
opacas.
uma hemorragia
fatal,
gerando vida
naqueles que são só
matéria.
arco íris,
nas íris
indolentes.
o pavimento corriqueiro
infectado de versos.
veia poética,
esta da morte.
afinal,
poeta bom
talvez seja
poeta morto.




*escrito em 2011*