eu tenho medo do bem. tenho medo da faca
da convicção. vejo-a retalhar ideias no ninho. aspirações em formação. ideais que
não se transmitem na linguagem formatada, na formalidade das falas bonitas, mas
mortas. cemitério de altíssimas verdades. um corte profundo, assertivo,
treinado na mediocridade do reproduzir. eu tenho medo do bem cristalizado. da negação
do mal estar que a análise atenta, constante e forçada provoca. eu tenho medo da
transubstanciação do bem em verdade e, da verdade em deus. da fé, que faz enxergar
ao outro como inimigo. sacrificamos nossos inimigos a deus. é assim faz tempo. mesmo
sem saber ao certo o que é o bem, ou, o que é deus. estranho olhar o outro sem se
ver. o outro é carapaça. sujeito a humilhação e chutes na costela. ele não é o
bem. ele não se justifica. e a verdade-fé se justapõe em um único tiro. eu
tenho medo do bem. eu tenho medo do bem. eu tenho medo do bem.
das palavras que me adoecem como a febre e que depois de queimar-me, abandonam-me, restando apenas a cura.
terça-feira, 15 de março de 2016
sábado, 12 de março de 2016
Dos fazeres
.eu faço poesia de quinas e de sobras. às vezes de falta também, mas só quando ela é fartura.
terça-feira, 8 de março de 2016
Morte e vida poetina
expressão engraçada:
- veia poética.
salvadora também.
faz-me pensar que
morrer é
um bem maior
que o poeta
pode legar.
imagine:
os olhos baços
do poeta estirado no asfalto,
atropelado
pela sensibilidade,
e o sangue
borbulhando
abrindo caminho
entre o desgosto
cotidiano
através dos pneus dos carros.
fazendo sua própria via,
despertando flores,
alamedas de paz.
o cordeiro da remissão:
as pessoas olham
e o todo aquele vermelho
as absolve de serem
opacas.
uma hemorragia
fatal,
gerando vida
naqueles que são só
matéria.
arco íris,
nas íris
indolentes.
o pavimento corriqueiro
infectado de versos.
veia poética,
esta da morte.
afinal,
poeta bom
talvez seja
poeta morto.
poeta morto.
*escrito em 2011*
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